A origem da bandeira branca como símbolo de pacificação no meio de um conflito bélico é incerta. Os historiadores consideram duas possibilidades para sua origem. Uma delas seria no Império Romano, em 190 A.C. Outra corrente afirma que ela surgiu durante a Dinastia Han, na China Oriental, entre 25 e 200 A.C.
Mas independente de sua origem, a expansão do seu uso pelo mundo foi notória. Em diversos momentos, ela chegou inclusive a ser usada de forma falsa, para atrair o inimigo para uma armadilha. Este tipo de incidente mais tarde seria tipificado internacionalmente como crime de guerra.
A bandeira branca era levantada, principalmente, pelos exércitos mais fracos, em sinal de rendimento. Mas, em outras ocasiões, ela foi protagonista de eventos belíssimos da história da humanidade, como a resistência pacífica liderada por Mahatma Gandhi que culminou com a independência da Índia.
No Brasil de hoje em dia, onde os conflitos armados vinculados ao tráfico de drogas tornam-se frequentes, a bandeira branca torna-se quase uma utopia para quem quer viver sem a possibilidade de ser vitimado por uma bala perdida. Enquanto escrevo este texto, lembro-me ainda daquela marchinha de carnaval, cantada na voz da saudosa Dalva de Oliveira, na qual a bandeira era estendida como um pedido para reatar um relacionamento rompido.
Até que, na quarta-feira da semana passada, o Conselho de Ética do Senado deu um outro significado ao termo bandeira branca. A rendição do governo e da oposição ao grupo de Sarney e Renan Calheiros deixou claro mais uma vez como o povo brasileiro está mal representado. O descompasso entre o dia-a-dia do Senado e o desejo da população é tão grande que, durante a última semana, não foram poucas as vezes que as pessoas se questionaram sobre a real necessidade de manter o Senado na estrutura da nossa república.
Até por este motivo, o maior problema causado por este desfecho talvez não seja os danos causados pela corrupção aos cofres públicos, mas sim o fato de que, para a população, o Senado passa a ser um estorvo, um entrave, um problema desnecessário. Se, em última análise, o raciocínio for levado ao parlamento como um todo, teremos uma situação em que ditadura talvez seja mais aceitável que a democracia. Não devemos nos esquecer que a moralidade foi um argumento central no Golpe de 1964, quando os militares implantaram um regime que praticamente institucionalizou a corrupção. Afinal de contas, foi ali que surgiram os “líderes” José Sarney, Renan Calheiros, Fernando Collor, entre tantos outros.
Talvez José Sarney esteja certo: a crise não é dele, é do Senado. O problema é que, com isso, quem paga a conta somos nós.
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A minha dificuldade hoje é descobrir quem é o maior cara-de-pau dessa história. Sarney, Renan, Collor, Mercadante... tá difícil! rs
ResponderExcluirFico me perguntando quando a sociedade vai tomar consciência da importância que tem o voto. Por quanto tempo vamos continuar trocando uma representação legítima por favores, cestas básicas e dentaduras...? (rs... rindo, mas falando sério ao mesmo tempo)
ResponderExcluirO povo gasta seu tempo criticando o quadro político do país como um todo, dizendo que "é tudo uma cambada de safado", quando deveria estar pensando e discutindo sobre quem é a pessoa que realmente faz valer os nossos anseios e interesses, e colocá-la no lugar desses caras-de-pau. (termo bem colocado pelo André)
Lembro de um dia em que jovens de cara pintada sairam às ruas para pedir a retirada de um presidente cara-de-pau. O pior é que, passados alguns anos, ele está de volta ao quadro político nacional. E fomos nós, falando de forma geral, que o colocamos de volta... (só um comentário)
Existem exceções por aí. Pessoas que querem, de verdade e sem interesses, lutar para garantir os direitos do povo e construir uma sociedade melhor e mais digna.
Façamos valer a nossa vontade. Lutemos contra toda essa alcatéia que age bem na frente da nossa cara e que, mesmo que saibamos a verdade, continua usando roupinha de cordeiro e se misturando ao rebanho, devorando a dignidade que ainda nos resta.
Usemos nosso momento diante da urna para fazer ser ouvida a nossa voz, e para construir um Rio e um país mais felizes...
Perdoem meu desabafo...
De fato a crise é institucional, é antiga e com poucas chances de mudanças a curto prazo.
ResponderExcluirPois como os adictos, até para se retirar a droga é preciso tolerá-la e ir administrando a abstinência, por conta de consequências ainda mais drásticas, que o vazio inbstituciuonal poderia provocar.
Por enquanto, necessário se faz refletir muito sobre o "como" chegamos até este ponto, para tentar enxergar aonde ele nos leva, enquanto vamos tentando melhorar a qualidade do eleitor e consequentemente, dos eleitos.
Sergio Renato Bacellar
Mais triste que ver a atuação de Collor Sarney e cia , é constatar que o povo está inerte!A nossa juventude está acomodada e acha tudo isso que esta ocorrendo no Senado é normal e natural!È fundamental preparar e capacitar os jovens de hoje para que eles possam no futuro fazer diferente!
ResponderExcluirTulio
Felipe, continuo com aquela pergunta martelando a minha cabeça: PARA QUE SERVE(ESSE)SENADO?
ResponderExcluirEmbora pareça ser um retrocesso no processo democrático, estou começando a achar que seria melhor ficar só com a Câmara, e olhe lá!
Marcelo, tô com vc: pelo unicameralismo!
ResponderExcluirEm tempos de tecnologia da informação capilarizada, questiono SIM a existência do poder legislativo: a Cidadania nunca foi praticada ou mesmo entendida pela maior parte da sociedade brasileira que insiste no exercício dos seus DIREITOS e esmera-se incansavelmente na criatividade para a utilização dos subterfúgios aos deveres (e viva o "Jeitinho...").
ResponderExcluirA ciência política foi soterrada pela politicagem e pelos políticos profissionais não é de hoje... restou-nos assistir ao espetáculo de impunidade que os nossos representantes do Senado e da Câmara continuam a protagonizar.
Voltando a ideia principal: não consigo tirar da minha cabeça a aula em que nosso venerável Mestre Cláudio Gurgel, professor da Faculdade de Administração da UFF, numa classe de "Política e Administração", comentou certa vez. Ele nos falava sobre as Pólis gregas, onde as decisões eram tomadas em Assembleias públicas, com intensa participação popular.
Por que não pensarmos num modelo onde as associações, os estudantes, os sindicatos, o Terceiro Setor, os militares e o cidadão comum formem colegiados temáticos representativos das pautas que a própria sociedade estabeleceria! Se temos tecnologia para eleger representantes em urnas eletrônicas, para realizar transações comerciais, contábeis e das mais diversas naturezas, por que não o exercício direto da fiscalização ao Executivo e a elaboração e votação das leis que nos interessam?